Empresa sul-coreana Hyundai quer comprar terras no Brasil

 

Folha de S. Paulo | 09/05/2010

 

Empresa sul-coreana Hyundai quer comprar terras no Brasil

 

ESTELITA HASS CARAZZAI

 

LUIZA BANDEIRA

 

da Agência Folha

 

MATHEUS MAGENTA

 

da Agência Folha, em Salvador

 

Executivos da empresa sul-coreana Hyundai negociam com governos estaduais a compra de terra no Brasil com o objetivo de plantar e exportar soja para a Coreia do Sul.

 

Representantes da empresa visitaram o Piauí na semana passada e, em junho, terão reuniões com os governos do Maranhão, do Tocantins e da Bahia.

 

Os coreanos querem comprar 10 mil hectares no Brasil, mas ainda não têm prazo para fechar o negócio. Segundo o diretor da Hyundai Corporation no Brasil, Gi-Seob Kim, o projeto é "muito recente". Essa não é a única investida de orientais no agronegócio brasileiro.

 

Desde o início do ano, ao menos mais nove grupos, entre coreanos, chineses e indonésios, visitaram o país em busca de terra para plantio e exportação.

 

O investimento é tido como estratégico para garantir o suprimento de alimentos a esses países, que têm grande população e pouca área agricultável.

 

A Coreia do Sul, por exemplo, tem apenas 0,6% da terra agricultável que existe no Brasil. A área, pouco menor que o Sergipe, tem de abastecer população de 48,5 milhões de pessoas. Segundo Gi-Seob Kim, várias empresas do país têm comprado terras no exterior para exportar alimentos já há alguns anos.

 

A própria Hyundai é um exemplo: em 2009, a empresa comprou 10 mil hectares na Rússia para plantar soja e milho. Em abril deste ano, ocorreu a primeira colheita: foram 4.500 toneladas de soja e 2.000 toneladas de milho -tudo exportado para a Coreia do Sul.

 

Segundo Gi-Seob, a ideia é reproduzir esse mesmo projeto no Brasil. Aqui, a empresa quer plantar exclusivamente soja, um dos principais insumos da indústria de alimentos, e colher 50 mil toneladas do produto por ano, sendo que parte dele deve ser processada localmente antes de ser exportado. O volume corresponde a 4% do total de soja que a Coreia importa.

 

China

 

Apesar da investida coreana, os maiores interessados na compra de terras no Brasil têm sido os chineses, os maiores importadores de soja do mundo.

 

Segundo o diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Kevin Tang, nos últimos meses seis grupos chineses demonstraram interesse em comprar terras no Brasil --três deles com participação estatal.

 

Embora não possa revelar as empresas nem os locais de investimento, Tang diz que o foco dos empresários é o Nordeste, onde as terras são mais baratas.

 

O oeste da Bahia e o sul do Maranhão e do Piauí são apontados como locais preferenciais para investimento. No Piauí, diz o governo estadual, há 8 milhões de hectares disponíveis.

 

O governo da Bahia, de olho na oportunidade, levará à China nesta semana uma delegação de empresários para prospectar negócios em agricultura.

 

Segundo Tang, a intenção dos chineses não é só garantir suprimento, mas também assegurar que o país não fique à mercê das tradings do setor e possa ter mais controle sobre a cotação das commodities.

 

Especialistas negam perda com ofensiva asiática

 

A investida de empresas orientais em agricultura não tem como foco apenas o Brasil.

 

Japoneses, sul-coreanos e chineses já compraram ou planejam comprar terras na América do Sul, na África e em regiões da própria Ásia com o objetivo de plantar soja, milho e outros produtos.

 

Desde 2003, uma empresa japonesa possui 1.250 hectares de terras na Argentina, onde produz soja e milho, que são exportados para o Japão. Todos os funcionários são japoneses.

 

Na África, a presença de chineses em investimentos semelhantes já foi caracterizada por especialistas como "neocolonialismo" e é alvo de preocupações da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). Para Jacques Diouf, diretor-geral da organização, é preciso evitar que esses negócios prejudiquem as populações locais.

 

Para especialistas, porém, esse tipo de problema não deve acontecer no Brasil.

 

André Cunha, doutor em economia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que a penetração de estrangeiros é mais fácil quando o Estado é pouco estruturado, o que não é o caso do Brasil.

 

Na opinião de Paulo Vizentini, professor de relações internacionais da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o Brasil pode até se beneficiar desse tipo de investimento, já que possui muita área agricultável ociosa.

 

Agronegócio

 

O alto nível de organização do agronegócio brasileiro também pode barrar a entrada de estrangeiros no ramo. O secretário de Agricultura de Goiás, Leonardo Veloso, diz que chineses demostraram interesse em adquirir terras no Estado, mas se "assustaram" com o desenvolvimento tecnológico.

 

Uma das opções à compra de terra tem sido a formação de parcerias com brasileiros, afirma o presidente da Apex (Associação Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Alessandro Teixeira.

 

O problema de adquirir terras, diz, é que a produção agrícola chinesa é diferente da brasileira, desde o tipo de culturas e de terra até a tecnologia de cultivo, o que dificulta a gestão do negócio.

 

Produtor de Taiwan inspeciona trabalhadores em plantação de arroz em Burkina Fasso; presença de asiáticos na África é alvo de preocupação das Nações Unidas

 

Folha de S. Paulo | 09/05/2010 | English version

 

ESTELITA HASS CARAZZAI

LUIZA BANDEIRA

da Agência Folha

 

MATHEUS MAGENTA

da Agência Folha, em Salvador

Executivos da empresa sul-coreana Hyundai negociam com governos estaduais a compra de terra no Brasil com o objetivo de plantar e exportar soja para a Coreia do Sul.

Representantes da empresa visitaram o Piauí na semana passada e, em junho, terão reuniões com os governos do Maranhão, do Tocantins e da Bahia.

Os coreanos querem comprar 10 mil hectares no Brasil, mas ainda não têm prazo para fechar o negócio. Segundo o diretor da Hyundai Corporation no Brasil, Gi-Seob Kim, o projeto é "muito recente". Essa não é a única investida de orientais no agronegócio brasileiro.

Desde o início do ano, ao menos mais nove grupos, entre coreanos, chineses e indonésios, visitaram o país em busca de terra para plantio e exportação.

O investimento é tido como estratégico para garantir o suprimento de alimentos a esses países, que têm grande população e pouca área agricultável.

A Coreia do Sul, por exemplo, tem apenas 0,6% da terra agricultável que existe no Brasil. A área, pouco menor que o Sergipe, tem de abastecer população de 48,5 milhões de pessoas. Segundo Gi-Seob Kim, várias empresas do país têm comprado terras no exterior para exportar alimentos já há alguns anos.

A própria Hyundai é um exemplo: em 2009, a empresa comprou 10 mil hectares na Rússia para plantar soja e milho. Em abril deste ano, ocorreu a primeira colheita: foram 4.500 toneladas de soja e 2.000 toneladas de milho -tudo exportado para a Coreia do Sul.

Segundo Gi-Seob, a ideia é reproduzir esse mesmo projeto no Brasil. Aqui, a empresa quer plantar exclusivamente soja, um dos principais insumos da indústria de alimentos, e colher 50 mil toneladas do produto por ano, sendo que parte dele deve ser processada localmente antes de ser exportado. O volume corresponde a 4% do total de soja que a Coreia importa.

China

Apesar da investida coreana, os maiores interessados na compra de terras no Brasil têm sido os chineses, os maiores importadores de soja do mundo.

Segundo o diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Kevin Tang, nos últimos meses seis grupos chineses demonstraram interesse em comprar terras no Brasil --três deles com participação estatal.

Embora não possa revelar as empresas nem os locais de investimento, Tang diz que o foco dos empresários é o Nordeste, onde as terras são mais baratas.

O oeste da Bahia e o sul do Maranhão e do Piauí são apontados como locais preferenciais para investimento. No Piauí, diz o governo estadual, há 8 milhões de hectares disponíveis.

O governo da Bahia, de olho na oportunidade, levará à China nesta semana uma delegação de empresários para prospectar negócios em agricultura.

Segundo Tang, a intenção dos chineses não é só garantir suprimento, mas também assegurar que o país não fique à mercê das tradings do setor e possa ter mais controle sobre a cotação das commodities.

Especialistas negam perda com ofensiva asiática

A investida de empresas orientais em agricultura não tem como foco apenas o Brasil.

Japoneses, sul-coreanos e chineses já compraram ou planejam comprar terras na América do Sul, na África e em regiões da própria Ásia com o objetivo de plantar soja, milho e outros produtos.

Desde 2003, uma empresa japonesa possui 1.250 hectares de terras na Argentina, onde produz soja e milho, que são exportados para o Japão. Todos os funcionários são japoneses.

Na África, a presença de chineses em investimentos semelhantes já foi caracterizada por especialistas como "neocolonialismo" e é alvo de preocupações da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). Para Jacques Diouf, diretor-geral da organização, é preciso evitar que esses negócios prejudiquem as populações locais.

Para especialistas, porém, esse tipo de problema não deve acontecer no Brasil.

André Cunha, doutor em economia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que a penetração de estrangeiros é mais fácil quando o Estado é pouco estruturado, o que não é o caso do Brasil.

Na opinião de Paulo Vizentini, professor de relações internacionais da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o Brasil pode até se beneficiar desse tipo de investimento, já que possui muita área agricultável ociosa.

Agronegócio

O alto nível de organização do agronegócio brasileiro também pode barrar a entrada de estrangeiros no ramo. O secretário de Agricultura de Goiás, Leonardo Veloso, diz que chineses demostraram interesse em adquirir terras no Estado, mas se "assustaram" com o desenvolvimento tecnológico.

Uma das opções à compra de terra tem sido a formação de parcerias com brasileiros, afirma o presidente da Apex (Associação Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Alessandro Teixeira.

O problema de adquirir terras, diz, é que a produção agrícola chinesa é diferente da brasileira, desde o tipo de culturas e de terra até a tecnologia de cultivo, o que dificulta a gestão do negócio.

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