Cambodja-França: Camponeses em tribunal de Paris contra multinacional Bolloré: "Devolva as nossas terras"

4-10-2019, ASemana
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Cambodja-França: Camponeses em tribunal de Paris contra multinacional Bolloré

Dez cambodjanos estiveram na terça-feira, 1, num tribunal de Paris para serem ouvidos na primeira audiência do julgamento do caso em que 80 camponeses reivindicam, desde 2010, a devolução das suas terras ocupadas pela Socfin do magnata francês Vincent Bolloré.

Os media franceses presentes no tribunal de recurso onde o processo judicial se arrasta desde 2015, destacam o constrangimento reinante na sala da audiência, em Nanterre, demasiado pequena para os participantes e espectadores: o pessoal judicial, os dez ’queixosos’, os advogados e representantes do réu que criticaram "o circo mediático" à volta da reivindicação dos camponeses que chegaram a Paris com ajuda de uma ONG.

As diferenças culturais destacam-se nesta reivindicação de dez mil hectares de terrenos no Cambodja, como relata a imprensa sobre a audiência que aconteceu oito meses depois de ter sido adiada, em fevereiro.

A defesa de Vincent Bolloré destacou ter "a lei do seu lado", perguntando aos camponeses: "Onde estão as certidões prediais"?

Os queixosos invocam o direito do seu país que lhes deu "posse das terras milenares para as práticas vivenciais da coletividade no plano étnico, social, cultural e económico".

Indemnização por prejuízo material e moral

O tribunal vai agora ter de dirimir se o grupo Bolloré deve não só devolver os cem mil hectares de terreno mas também pagar por "prejuízo material e moral" a cada um dos oitenta queixosos o montante de 65 mil euros.

A defesa dos camponeses alega que "a heveacultura [cultura da árvore da borracha] por Bolloré na comunidade de Bousra [no leste cambodjano, terra da etnia Bunong desde antes do século I.a.C.] foi sistematicamente desenvolvida em detrimento dos habitantes Bunongs e dos queixosos em particular, cujos direitos foram literalmente espezinhados pela multinacional francesa".

As atividades do grupo Bolloré, que datam desde o tempo da empresa "Compagnie du Cambodja" — durante a colonização francesa — foram beneficiadas por intervenção primeiro do estado francês e depois do estado cambodjano através de "expropriações", "deslocalização das populações", "perda de fontes de rendimento", "insegurança alimentar", "perda da biodiversidade", "desflorestação" e "destruição das florestas sagradas".

O combate pela devolução de terras ancestrais acontece também em outros países asiáticos, como a Indonésia, e em países africanos, como os Camarões.

Na república oeste-africana, a reivindicação tem como autores grupos de duas centenas de camponeses que estão a organizar-se para processar três sociedades agro-industriais do grupo Bolloré — Socapalm, SPFS, Safacam. Estas são plantações camaronesas pertencentes à Socfin, uma filial sediada no Luxemburgo, o que tem permitido a Vincent Bolloré "sacudir a água do capote" alegando que não é gestor direto. Em 6 de novembro se saberá.
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