Alta do investimento chinês remodela conexão com Brasil

Investidores chineses estão adquirindo centenas de milhares de hectares de terras cultiváveis no Nordeste do Brasil para produzir grãos e biocombustíveis para exportação.

Reuters | 10/08/2010 | English

Por Stuart Grudgings

RIO (Reuters) - A alta do investimento chinês no Brasil está remodelando os elos entre os países, à medida que empresas chinesas procuram garantir recursos naturais e ganhar acesso à crescente classe consumidora na maior economia da América Latina.

Vinda virtualmente do nada, a China disparou para a posição de maior investidor estrangeiro direto no Brasil este ano, com aquisições que variam de minas de ferro a vastas terras para plantio, bem como linhas de transmissão de energia.

Depois de incursões semelhantes na África e outras partes do planeta, empresas chinesas, com acesso a financiamento estatal de baixo custo, estão procurando conquistar posição permanente no Brasil, com o objetivo de diversificar suas fontes de receita e atender à aguda necessidade brasileira de infraestrutura.

A fome de capital do Brasil é um atrativo evidente para a China, que tem mais de dois trilhões de dólares em reservas internacionais e obtém retornos baixos sobre sua vasta aplicação em títulos do Tesouro norte-americano.

O grande e vigoroso mercado de consumo brasileiro é um contraste bem-vindo para com a estagnação da demanda nos mercados tradicionais de exportação chinesa: Estados Unidos, Europa e Japão.

"O interesse da China pelo Brasil avançou da busca por ativos no setor de recursos naturais para a infraestrutura. O objetivo é criar uma classe média mais forte, de modo que o Brasil se torne parceiro e cliente mais atraente para os chineses", disse o presidente-executivo do Standard Bank para as Américas, Eduardo Centola.

O boom do investimento chinês no Brasil sublinha uma mudança no direcionamento do poderio econômico mundial, já que o dinheiro começa a fluir cada vez mais de maneira direta entre os mercados emergentes de rápido crescimento, sem passar pelos países desenvolvidos.

Os grandes investimentos no Brasil anunciados este ano ainda não foram todos confirmados, mas se comparam a apenas 83 milhões de dólares em 2009.

AUSTRÁLIA, CANADÁ E BRASIL

Os elos entre os gigantes de mercado emergente vêm sendo dominados há muito pela voraz demanda chinesa por recursos naturais brasileiros.

Agora, as empresas chinesas querem estabelecer presença local de modo a reduzir sua vulnerabilidade a problemas de suprimento, e o Brasil emergiu como um dos destinos favoritos, com a estabilização e crescimento de sua economia.

"O que eles procuram são países que ofereçam ativos atraentes em termos de recursos naturais e que sejam politicamente estáveis o bastante para receber investimentos, ou seja, Austrália, Canadá e Brasil", disse Thilo Hanemann, analista de questões chinesas na consultoria Rhodium Group, em Nova York.

Grandes transações não demoraram a surgir, do investimento de cerca de 5 bilhões de dólares anunciado pela Wuhan Iron and Steel para construir uma siderúrgica no Estado do Rio de Janeiro a uma participação de 3 bilhões de dólares adquirida pela Sinochem em campos petrolíferos brasileiros em águas ultraprofundas. Investidores chineses estão adquirindo centenas de milhares de hectares de terras cultiváveis no Nordeste do Brasil para produzir grãos e biocombustíveis para exportação.

O investimento foi além dos recursos naturais de que a China necessita para abastecer sua indústria e alimentar seu povo, e chegou a áreas cujo foco é a demanda interna, em uma economia que, de acordo com as projeções, terá o quinto maior mercado mundial de consumo em 2014.

A State Grid, estatal chinesa do setor elétrico, está pagando 1,7 bilhão de dólares para assumir o controle de companhias de transmissão de energia no Brasil. A Sany Heavy Industry, fabricante de máquinas pesadas para construção, está erguendo uma fábrica de 200 milhões de dólares, enquanto o Brasil acelera seus planos de infraestrutura em função da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Empresas chinesas estão entre as favoritas para o projeto do trem-bala que ligará São Paulo e Rio de Janeiro ao custo estimado de 19 bilhões de dólares.

COMPRANDO BRASIL?

Nem todos saúdam a onda de investimentos chineses. As grandes aquisições têm levantado temores de que o Brasil perca o controle sobre seus próprios recursos naturais.

O ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto disse em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" que o governo brasileiro estava sendo míope ao permitir que a China "compre" o Brasil como comprou a África.

"O investimento chinês é bem-vindo, mas não com tanto entusiasmo porque raramente está criando empregos e não está tendo muito impacto em aumentar nossas exportações", disse o economista Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

A alta dos investimentos ocorre após anos de preocupações de que as exportações de manufaturados chineses e suas importações de commodities estavam reduzindo a competitividade da indústria brasileira. A alocação de recursos da China no Brasil poderia aliviar parcialmente esse tensão.

Mas a China, que no ano passado tomou o lugar dos EUA como maior parceiro comercial do Brasil, não está investindo para ser "boazinha", disse o diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China no Rio de Janeiro, Kevin Tang.

Assegurar mais recursos naturais como minério de ferro é parte do plano estratégico da China de reduzir sua dependência de multinacionais como a mineradora brasileira Vale, afirmou Tang.
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