Por que a SLC vai seguir comprando terras no Brasil

5-2-2014, Amanhá
Medium_gustavo-slc-350

Por Conrado Esber

Em 2010, um parecer da Advocacia Geral da União (AGU) restringiu a compra de terras no Brasil por empresas com controle estrangeiro. Desde então, companhias brasileiras do setor agrícola, como a SLC, viram crescer a oferta de terras por preços acessíveis no território nacional, e aproveitam o momento para aumentar a sua carteira de propriedades. Porém, mesmo com a autorização para registrar novos imóveis, cumprir todas as exigências burocráticas do governo é uma tarefa árdua,  segundo Gustavo Lunardigustavo-slc-350 (foto), presidente da SLC LandCO, braço responsável pela aquisição e venda de terras da SLC, uma das três maiores produtoras de grãos e fibras do Brasil.

Como a SLC tem visto o mercado de terras no Brasil?

A gente sempre escuta que tem muita terra disponível no Brasil. Isso é verdade. Porém, a questão de transferência de propriedade no país  é um tema bastante crítico. As diligências jurídicas e ambientais são fatores determinantes para você conseguir legalizar e conseguir o título da propriedade. É preciso checar a cadeia dominial, verificar se existe um passivo ambiental, ver se o título é confiável. No Brasil se tem muita dificuldade por conta da qualidade dos documentos: é difícil determinar a origem dos papéis, saber se é confiável. Na SLC, nós temos uma área jurídica especializada em diligência ambiental e títulos de terra, para que façamos uma compra segura para o acionista.

Com tantas dificuldades a opção de comprar no Brasil perde força?

Hoje, ainda olhamos principalmente para o Brasil. A nossa estratégia de expansão é dentro do território nacional. A gente sabe comprar terra. Então o fato de ser um processo que exige uma postura criteriosa do comprador se torna uma vantagem competitiva que temos. Isso nos diferencia dos demais compradores. E o Brasil ainda tem terras relativamente baratas se compararmos com Argentina, Austrália Europa e Estados Unidos. Por isso continuaremos, investindo enquanto o gap de preço entre a terra brasileira e a de outros lugares do mundo autorizar esse investimento aqui. Mesmo assim, sempre olhamos para o exterior. Sou o responsável pela internacionalização da empresa e estamos realizando estudos de viabilidade em países da África e da América do Sul. Mas ainda acompanhamos o mercado externo mais para fazer uma comparação e saber quando será o turning point, quando é que vai passar a ser mais caro investir no Brasil do que lá fora -  o que ainda não aconteceu. Em um horizonte entre cinco e dez anos o Brasil seguirá sendo um celeiro de terras, principalmente para os brasileiros. Ou para brasileiros associados a estrangeiros, mas que possuam o controle.

Há pouco tempo, a SLC quase comprou terras na África...

Hoje não temos operação fora do Brasil. Mantemos esse projeto de internacionalização muito ativo porque, apesar de ter convicção de que nosso foco de expansão é no Brasil, estamos sempre olhando oportunidades fora. Na África prospectamos terras em Angola, Etiópia, Tanzânia, Moçambique e Gana. Em Moçambique aprofundamos o estudo.  Os nossos critérios para eleger um possível investimento é o potencial agronômico, o potencial produtivo. Depois consideramos a questão política, socioambiental e econômica. A África tem a mesma latitude que o centro-oeste brasileiro, tem um regime de chuvas muito similar. O fiel da balança passa a ser político, social e jurídico.

Diante da possibilidade de receber a terra por concessão na África, não seria mais barato investir por lá?

Investimos no Brasil tanto por arrendamento quanto comprando terras. A área arrendada seria equivalente a uma área de concessão. Porém, mesmo que na concessão não se tenha que pagar,  o imóvel não é teu. Quando você compra uma terra e vai plantar nela você agrega valor no patrimônio da empresa. Se o imóvel é concedido, você estará agregando valor em um imóvel que nunca vai ser teu.  Então, a maneira de se olhar a rentabilidade vai ser diferente. Uma exploração em ativo próprio garante também um ganho imobiliário. Já quando você olha para uma exploração na África, o estudo de viabilidade é diferente, baseado somente no retorno da operação agrícola. E o grande problema lá, hoje, é os países africanos estão muito atrás do Brasil em questão de infraestrutura, mão- de-obra e estrutura jurídica, para permitir a uma empresa estrangeira investir pesado. O setor agrícola é muito intensivo, utiliza muito capital. Então isso configura um risco alto.

A lei de terras, que acaba dificultando a compra de imóveis rurais por estrangeiros, atrapalha ou ajuda a SLC?

A restrição da compra de terra por estrangeiros impacta o nosso negócio. Por um lado,  o fato de não haver concorrência com estrangeiros é positivo para a SLC, que é compradora de terras. Afinal, diminui o número de compradores e o preço cai. Mas, sob o ponto de vista de liquidez no mercado de terras, a lei não é positiva. O fato de haver menos interessados em imóveis rurais reduz a tua liquidez no momento da venda. Então, sob o ponto de vista de comprador {a lei] é interessante para a SLC;  sob ponto de vista de vendedor, não. Fazendo um balanço geral do mercado a nossa posição é que seria melhor que não houvesse restrição para estrangeiros, porque a restrição limita investimento no Brasil.  Nós temos um sócio estrangeiro na nossa subsidiária para compra de terras, a SLC LandCO, mas é minoritário. Nós estamos adaptados quanto à legislação. Agora existem várias empresas que não tem essa condição, ou empresas onde o estrangeiro é majoritário, e para elas isso virou um grande problema. Se você tem a maioria das ações sob o controle nacional não tem problema.

Onde a SLC compra aqui no Brasil?

Basicamente compramos terra em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Tocantins, Piauí e Maranhão.

No Rio Grande do Sul, onde a SLC começou, as terras foram vendidas?

Temos uma estratégia de mitigação de risco climático. E o clima do Rio Grande do Sul apresenta um risco maior, em termos de probabilidade de seca, do que no cerrado brasileiro, que tem um regime de chuva mais estável. Então há muitos anos optamos por vender nossas terras no e ter estabilidade ne produção.

Quantos hectares a SLC tem atualmente?

Temos 320 mil hectares próprios e plantamos em uma área de 342 mil hectares. Estamos entre os maiores do Brasil e todo o nosso negócio é totalmente formalizado: somos uma empresa de capital aberto. Existem outros grupos que não são tão oficiais, então não dá para saber se somos o primeiro, segundo ou terceiro maior produtor de grãos e fibras do Brasil. Nosso foco é ser o mais produtivo e rentável possível.

Who's involved?

Whos Involved?


  • 13 May 2024 - Washington DC
    World Bank Land Conference 2024
  • Languages



    Special content



    Archives


    Latest posts